domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sobre carrascos


            Capuzes, machados, ternos e gravatas, as armas que durante o decorrer da história intimidaram e até mesmo ludibriaram com falsas promessas e inacessíveis oportunidades as classes mais humildes da humanidade, fazendo-as cair por diversas vezes em devaneios. O medo e a ilusão das fardas que compõe nosso cotidiano, nada mais servem de uma ferramenta segregatória que, de uma forma não natural, põe as classes de nossa sociedade umas contra as outras, agindo com represália, uma vez que os tais devaneios são quebrados.
            As tais represálias podem ser divididas em violentas e não-violentas, sendo a segunda a pior de todas, já que uma represália violenta possa levar a sensibilização ou até mesmo uma possível revolta através da mesma moeda de uma determinada classe, pois é uma represália moral que parte do íntimo das pessoas, atingindo o senso vital da criatura humana, esse senso é o próprio orgulho, a essência da identidade autônoma. Como ela ocorre? Simples! A propaganda é o LSD da nossa geração informatizada – aliás, a propaganda já era utilizada como alucinógeno nos ventos de Goebells -, e funciona da seguinte forma: manipulando a imagem do sucesso, ou seja, lhe propondo a posição de patrão (ler “Uma vista da alma burguesa”), seja com um terno ou um jaleco, mas jamais propôs o companheirismo e união. E por que não propor? Pelo simples fato de manter a divisão de mão-de-obra submissa e mandante alienado, sendo assim, impedindo qualquer manifestação pró-proletário, já que a ascensão à burguesia parece o verdadeiro e lógico bem. A verdade capitalista pode significar o avanço prático a uma parcela mínima da humanidade, porém, tornar-se-á um câncer para o restante, basta notar a realidade de países de terceiro no mundo na África, na Ásia, na Europa Oriental, na América Latina e no próprio Brasil.
            No exemplo africano podemos citar a própria carnificina financiada pelos diamantes, ou seja, enquanto Marilyn Monroe cantava que os diamantes são os melhores amigos de uma mulher, centenas de pessoas morrem para que a alta burguesia possa gozar de seu luxo, ludibriando mais uma vez as classes humildes, que ali acabam enxergando o sucesso e dessa forma caindo em devaneio. Mas esses conflitos violentos não deveriam sensibilizar pelo menos uma classe? De fato deveria, mas entendamos a ótica da situação, esses diamantes na África já transformaram as mentalidades de cada classe em cada território do continente, deixando assim, uma bater de frente com a outra, portanto a briga se tornou individual em partes aos interesses, seja ele por libertação, por cultura ou mesmo por capital. Mas ainda nessa ótica surge outra pergunta: não deveria países em estabilidade política como Estados Unidos, Reino Unido, França e entre outros de primeiro mundo voltarem sua atenção a essas questões? Ao menos as classes mais humildes dessas nações? Do ponto de vista humano sim, mas quem disse que a moral capitalista usufrui de humanismo? Primeiro, em parte aos governantes e da alta burguesia jamais será interessante o auxilio as camadas mais baixas da sociedade, pelo motivo básico que esta se sustenta através da exploração desta, agora, em relação ao povo desses países de primeiro mundo cabe a velha história contada por seus pais, aquela: “você não sabe a sorte que tem, há pessoas que nem o que vestir lhe provem” ou a melhor de todas por ser a mais sádica dentre elas, “come porque tem um monte de gente passando fome lá fora” – como se uma pessoa comer demais resolvesse todo o problema. Resumindo a idéia deste parágrafo, homens e mulheres de primeira classe necessitam da miséria de outros para se manterem nos píncaros da riqueza, as classes com possíveis chances de ascensão – mal entendem que fazem parte de uma relativa miséria social -, simplesmente se contentam com o fato da desgraça da pobreza não os afetarem. Ah! Essa mesma verdade vale para o Brasil e outros países classificados como emergentes, talvez até funcione muito mais fácil aqui, já que alta burguesia e miséria quase que se misturam no mesmo ambiente.
            Sobre carrascos entendamos até mesmo aqueles que possuem uma alma burguesa, ou até mesmo, como diria Bertold Brecht (1898-1956), o analfabeto político, ou seja, aquele que “...não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos..., não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”. Resumindo, carrascos são aqueles que omitem as necessidades do homem para o homem e também aqueles que fazem desta máquina genocida possível em pró de seu beneficio.

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