domingo, 21 de fevereiro de 2010

Uma vista da alma burguesa

A idéia de burguesia surgiu na Idade Média, ainda na era do feudalismo, com a criação dos burgos, que nada mais eram do que um castelo, ou o que seja, de um senhor feudal cercado com um centro urbano onde se faziam todos os tipos de negócio, e foi um dos sinais da decadência do então sistema senhoril da época e a abertura para o surgimento do comercialismo, que nada mais é do que um dos veios que direcionou a formação do capitalismo.
Graças a essa nova classe, o mundo pode enfim sair de um breu que por eras predominou na face do planeta. A idéia de absolutismo, do direito divino e da eterna preguiça da nobreza veio cair por terra, quando a classe burguesa motivados pelo Renascimento ou pelo Iluminismo levantou em armas aos antigos regimes, implantando republicas ou monarquias constitucionais, ou seja, o pensamento retrógrado de imobilidade social aos poucos foi sumindo da mente das pessoas.
De fato, as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII, permitiram a mobilidade social, pelo menos, em teoria, na prática, nem tanto. Como assim nem tanto? A lógica da antiga nobreza funcionava da seguinte forma: “eu sou rico porque Deus quer que eu seja rico, e você é pobre porque Deus quer que você me ostente”, ou seja, o pobre deveria permanecer pobre e o nobre permanecer nobre. Já a lógica burguesa pensa de outra forma: “eu sou rico, você também pode ser, mas eu não quero”. Vamos seguir o pensamento agora, a atual burguesia não eram os antigos senhores feudais que por acaso manteram centros comerciais em seus feudos? Portanto, a relação servil apenas mudou as caras.
A burguesia permanece detentora de posses, e essas posses incluem a própria mão-de-obra assalariada, em outras palavras, trabalhadores não passam de mero material e uma vez que estes ao não possuir bens de auto-sustento, se submetem condições de subsistência, e, ao menor sinal de insatisfação, da mesma forma que um parafuso, é trocado por outro que se contente a submissão patronal. E por que não se levantar como fora feito antes pela burguesia? Como fora mencionado no parágrafo anterior, pela permissão de mobilidade social. Um engano, nada mais do que um engano! A força trabalhadora pelas vistas da burguesia é apenas uma mercadoria, não um investimento, ela não deve crescer, semelhante ao pensamento da nobreza de séculos antes, as classes mais baixas devem permanecer baixas a fins do sustento da mais alta.
Infelizmente através do pensamento de mobilidade de classes faz com que a própria força trabalhadora se divida, daí vem o que chamo de alma burguesa. Nenhuma classe está imune a esse sentimento, digo, que nem todo burguês persiste em posturas arcaicas, encarando em seu proletário meras peças e, da mesma forma, no próprio proletário encaramos diversos exemplos de submissos e aspirantes a burguês. Esses aspirantes infelizmente corroem toda união proletária, uma vez que vêem no sistema de patronato a resposta de ascensão social. Bem aventurados sejam aqueles que acreditam nas propagandas, e que entorpecidos vivem de ilusão.
Mas por que teimam a ilusão? Por que ainda acreditam na propaganda? Pelo fato de não levarem mais em conta as teorias do economista escocês Adam Smith (1723-1790), onde ele diz que a riqueza não está necessariamente na produção, mas sim, na própria mão-de-obra – não que isso seja um indicio do socialismo, mas um reconhecimento da verdadeira essência do próprio capitalismo. Então, para muitos contemporâneos, a riqueza não se encontra mais no trabalho, mas em seus próprios resultados, ou seja, além do sucesso pregado pela propaganda capitalista (melhor explicado em “Sobre carrascos”), onde você pode ser o patrão, há também a propaganda material, que jogam devaneios tolos onde o símbolo de poder está numa televisão, em um celular e por aí vai, deixando o povo esquecer da educação, da saúde ou até mesmo da segurança que, para a burguesia, só representa benefícios quando está indo mal para as classes mais baixas, ou seja, de dois, um: ou se rendem a esse rede de proteção utilizando dos recursos básicos de vida que se encontram na mão da própria burguesia, ou aprendem a se contentar em poder comprar mais um luxo que os aproxime da burguesia. Esse último é mais um reflexo da alma burguesa que se impregna nas classes mais baixas. A incapacidade de ascender de classe pode ser facilmente sancionada pelo espelhamento da burguesia no próprio proletário.
A luta de classes pregada por Karl Marx (1818-1883) ganhou novas formas no século XXI devido as novas tecnologias, mas isso faz parte, como diria Eduardo Bernstein (1850-1932), dos “meios de adaptação” - que seria a formação de cartéis, desenvolvimento dos meios de comunicação (mais uma vez mostrando sua face) e até mesmo a melhoria da situação da classe operária (conforme se encaixa nos moldes burguês lógico) -, brutalmente questionado por Rosa Luxemburgo, que encara essas idéias de Bernstein de frente mostrando que, da mesma forma que esses elementos servem de antagonismo ao capitalismo, os mesmos evitam sua ruína, e assim “...resta apenas a consciência de classe do proletariado, como fator do socialismo” (Rosa Luxemburgo, Reforma ou Revolução, pg. 26).

3 comentários:

  1. "Portanto, a relação servil apenas mudou as caras"
    É ruim ter que admitir, mas é a nossa triste realidade.
    Aí, só pergunto até quando será assim.
    Erran, vou seguir fielmente o blog ;)


    Reparei na bandeira nacional ali em cima, você é patriota, nacionalista, algo do gênero?
    Beeijo.

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  2. É infelismente o sistema atual creio eu que nao é capaz de mudar essa realidade, eu costumo dizer sempre comigo mesmo: A Burguesia é a alma do capitalismo! estou certo?

    Abraços gente

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